quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A MOSCA E O VIDRO

A mosca, aflita, batendo no vidro;
e o vidro, cerca invisível, impedindo a mosca.
Através do vidro, a mosca vê o dia
e vê a árvore, florida e tosca;
vê o céu, e tudo o que faz sentido,
e percebe o sol, que a luz irradia.

Então zumbe, se debate e insiste,
suas asas vibrando frenéticas
no ar parado, que não é aquele outro,
aquele além do vidro, cuja estética,
e corpo duro, não lembra nada que existe.
Ela, porém, insiste mais um pouco...

Depois, mais um tanto e outro tanto
Até que o desassossego e o cansaço,
cobrando seu preço inadiável, 
prostra-lhe o ânimo no mormaço
e ela então, pousa a um canto,
ficando inerte, no que parece estável.

Mas ela, já descansada, não desiste,
e torna ao desespero constante
investindo, debalde, naquilo que é firme e forte.
E num febril e indefinível instante,
quando a muralha transparente lhe resiste,
a mosca, enfim vencida, tomba para a morte.

Douglas Santos Júnior


Nenhum comentário:

Postar um comentário